quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Gelo da Groenlândia teve derretimento recorde em julho


O gelo da Groenlândia derreteu em um ritmo mais rápido este mês do que em qualquer outra época registrada na história, com praticamente toda a camada de gelo mostrando sinais de descongelamento.

O rápido derretimento em apenas 4 dias foi capturado por três satélites. Ele chocou e alarmou os cientistas, aprofundando temores sobre o ritmo e as consequências futuras das mudanças climáticas.

Em comunicado postado no site da Nasa na terça-feira (24), os cientistas admitiram que os dados de satélite foram de tal forma marcantes que pensaram a princípio que havia um erro.

"Isso foi tão extraordinário que no começo eu questionei o resultado: era real ou consequência de um erro nos dados?" disse no comunicado o pesquisador Son Nghiem, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, Califórnia.

Ele consultou vários colegas, que confirmaram suas descobertas. Dorothy Hall, do Centro de Voos Espaciais da NASA, em Greenbelt, Maryland, estuda a temperatura da superfície da Groenlândia. Ela confirmou que a área passou por temperaturas anormalmente elevadas em meados de julho, e que houve o derretimento generalizado ao longo da superfície da camada de gelo.

Os climatologistas Thomas Mote, da Universidade da Geórgia, e Marco Tedesco, da City University de Nova York, também confirmaram o derretimento registrado pelos satélites.

No entanto, na terça-feira (24), os cientistas ainda estavam tentando entender as imagens chocantes. "Eu acho que é justo dizer que isto não tem precedentes", disse Jay Zwally, glaciologista da Nasa que trabalho no Centro de Voos Espaciais Goddard.

Recorde em 4 dias

"Foi o segundo evento extraordinário na Groenlândia em uma questão de dias. O primeiro foi a separação de um iceberg do tamanho de Manhattan, que se despreendeu da geleira Petermann. Contudo, a medição do rápido derretimento foi vista como mais grave"

O conjunto de imagens divulgadas pela Nasa na terça-feira mostra um degelo rápido entre 8 e 12 de Julho. Dentro desse período de quatro dias, as medições de três satélites indicam uma expansão rápida da área do fenômeno, de um derretimento de cerca de 40% da camada de gelo para 97% da sua área.

Ao longo de três décadas, Zwally fez viagens quase todos os anos à Groenlândia, e disse nunca ter visto um derretimento tão rápido.

Durante um verão típico, cerca de metade do gelo na superfície da Groenlândia derrete. Entretanto, Zwally afirmou que ele e outros cientistas têm registrado uma aceleração desse processo ao longo das últimas décadas. Este ano, na estação suíça onde fica com sua equipe, ele teve de reconstruir o acampamento quando os suportes de gelo se fundiram.

Zwally ficou impressionado ao ver nas imagens indicações de derretimento mesmo em torno da área da Estação Summit, que fica a uma altitude de cerca de 2 quilômetros acima do nível do mar.

Foi o segundo evento extraordinário na Groenlândia em uma questão de dias. O primeiro foi a separação de um iceberg do tamanho de Manhattan, que se despreendeu da geleira Petermann. Contudo, a medição do rápido derretimento foi vista como mais grave.

"Se você olhar a imagem de 8 de julho, ela poderia ser o limite máximo de aquecimento visto no verão", disse Zwally. "Houve períodos em que o degelo pode ter ocorrido brevemente em altitudes mais elevadas -- talvez por um ou dois dias -- mas vê-lo ocorrer em toda a Groenlândia, como desta vez, é inusitado, certamente para o período que temos registros de satélite".

Lora Koenig, outra glaciologista do Centro Goddard, disse à Nasa que um derretimento semelhante ocorre a cada 150 anos. Mas alertou que, pontencialmente, havia amplas implicações do degelo deste ano. "Se continuarmos a observar eventos de fusão como este nos próximos anos, será preocupante".

As consequências mais imediatas são o aumento do nível do mar e um maior aquecimento do Ártico. No centro da Gronelândia, a presença do gelo vai até 3.000 metros de profundidade. Nas bordas, no entanto, a camada de gelo é tremendamente mais fina e está derretendo para dentro do mar.

O derretimento da camada de gelo é um fator importante na elevação do nível do mar. Os cientistas atribuem cerca de um quinto do aumento anual do nível do mar, que é cerca de 3 milímetros a cada ano, ao derretimento do gelo da Groenlândia.

No caso da fusão extrema deste mês, Thomas Mote disse que há evidências de que ele possa ser consequência de uma redoma de calor sobre a Groenlândia. Ou, então, uma forte frente de ar quente.

Esta redoma de calor, acredita-se, chegou sobre a Groenlândia em 08 de julho e se manteve até o dia 16 de Julho.

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