Uma enorme capa tóxica de plástico cobrindo os oceanos. Dezenas de pelicanos estranhamente mortos com isqueiros, soldadinhos de plástico e outros fragmentos do mesmo material no estômago. Baleias azuis e uma misteriosa síndrome que as deixa famintas. Pode parecer um cenário de ficção, mas trata-se de um alerta bastante real apresentado pelo documentário – em fase de produção – Away: a poluição das águas por plásticos, uma ameaça à biodiversidade marinha e à vida humana.
A equipe de documentaristas da Plastic Ocean Foundation, organização ambientalista do Reino Unido, visitou mares de todo o mundo, mergulhou com baleias, investigou as profundezas e flagrou situações extremas de contaminação, sempre acompanhando de perto o trabalho de pesquisadores que conduzem estudos de ponta sobre o tema. Para a bióloga marinha Jo Ruxton, idealizadora e produtora do filme, é preciso sensibilizar o mundo para o problema do plástico e incentivar o desenvolvimento de novas estratégias para enfrentá-lo.
Muito desse lixo plástico acaba em rios e mares, onde pode afundar e contaminar o fundo dos oceanos ou ficar em suspensão, quebrando-se em pequenas partículas após anos de exposição no ambiente. “Percebemos que a existência de um grande aglomerado de lixo no meio do oceano é um mito; o que existe é uma sopa tóxica, mais perigosa e menos visível, logo abaixo da superfície das águas”, avalia Ruxton.
A base da cadeia alimentar
Misturado ao plâncton, conjunto de plantas e animais microscópicos que formam a base da cadeia alimentar marinha, o plástico é ingerido por pequenos animais e contamina a biodiversidade do mar de forma progressiva e cumulativa, colocando em risco também a saúde humana. Afinal, os peixes são fontes de proteínas na dieta de boa parte do mundo.
Os plásticos possuem toxinas relacionadas a diversas doenças, como câncer, diabetes e disfunções autoimunes. “Além disso, ajudam a concentrar outras substâncias tóxicas, provenientes de efluentes industriais, por exemplo”, conta a bióloga. “A água de diversos locais onde estivemos apresentou grande concentração de plástico associada a essas toxinas.” Para Ruxton, apesar de os cientistas ainda discutirem a escala da crise, parece claro que todos os oceanos já são vítimas da poluição plástica.
O homem, é claro, não é o único ameaçado. A equipe acompanhou pesquisas sobre a quantidade de lixo plástico consumida pelos animais marinhos. Chamou a atenção sua possível relação com a chamada skinny whale syndrome, mal que afeta populações de baleia azul, maior animal do mundo, encontradas misteriosamente famintas.
Cinema para preservar o mundo
Ruxton não é nenhuma novata no assunto. Com 12 anos de experiência na produção de séries como Blue Planet e Pacific Abyss para a rede de TV britânica BBC, a bióloga acredita no poder do cinema, aliado à ciência, para inspirar a mudança. “Queremos criar uma poderosa representação da crise, que tire os espectadores da complacência, mostrar que o problema não vai embora com o lixo”, explica. Até o título, ainda provisório – Away –, pretende destacar o impacto daquilo que jogamos fora.
Para o diretor do documentário, é preciso se aproximar do problema para compreender a ação humana na natureza. “Ao encontrar um soldadinho fabricado na China no estômago de um albatroz, numa ilha no meio do Pacífico, percebemos a extensão do problema”, relembra. “Precisamos repensar nosso estilo de vida descartável. Não se trata simplesmente de banir o plástico, mas de procurar soluções para o desperdício.”
Os documentaristas já acompanharam expedições de diversas instituições científicas parceiras do projeto, como as universidades de Plymouth, Exeter, Aberdeen e Portsmouth, do Reino Unido; Siena, da Itália; Califórnia e Maryland, dos Estados Unidos; e Pacífico Sul, da Oceania.
Até a metade de 2012, a equipe ainda vai visitar comunidades próximas a rios densamente poluídos com plásticos, para registrar seus efeitos sobre a vida humana. O lançamento está previsto para 2013.
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